Nos Palcos encontro as personagens a quem dou
e me dão vida.
É neles que sinto o pulsar de ilusões de tudo quanto
desejamos, ou pensamos que desejamos,
seja por momentos, ou porque o queremos para
todo o sempre.
Dei-me conta na D.T. de uma ópera, quanto às
vezes os nossos esforços podem ser derrubados
pelo imprevisto. De um minuto para o outro, e
sem rede, tudo pode desmoronar e estragar o
trabalho que vimos realizando e ao qual nos
entregamos com afinco.
Na vida, o imprevisto, pode trazer dissabores
e amarguras, algumas que nunca mais se resolvem,
e que de quando em vez, nos atormentam os sentidos.
Na verdade, estar a trabalhar no palco, em tudo
o que o rodeia, e muito mais numa ópera, permite,
por momentos, encontrar um infindo movimento,
ilusão, sensação única de liberdade, e em simultâneo,
uma acrescida responsabilidade provocada pela
ansiedade e stress natural de quem participou no
"parto" de mais um espectáculo.
É esta dicotomia que me fascina desde aqueles
tempos, em que com os meus amigos de infância,
fazíamos concertos desconcertados, circos
imaginários e teatros de vida, imitando as vedetas
de então, que víamos nas festas da Vila, que hoje
me leva a pensar: estou onde sempre quis estar,
nos bastidores do palco.
Ali, fervilham ilusões, medos, sorrisos, enfim,
a vida. Quem diria, que esta é a que escolhi e
onde me sinto bem?
Em mais um momento imprevisível, senti que o palco
é e será sempre a minha vida. Para outros, ela não
deixará também de o ser, quantas vezes de verdadeiras
ilusões, quantas vezes sem que infelizmente se possa
desmanchar o cenário ou repetir a cena!